sexta-feira, 26 de abril de 2013

O pior

eis a mesa
as garrafas
o incensário
meus cotovelos
eis a janela
e o vento frio
do fim da tarde

um pardal entra voando
bate no teto
e nas paredes
e vai embora

eis minhas vísceras
assim expostas
dilaceradas
estranhas
eis minhas entranhas
eis o que arranha
minha pele
e a perfura
e não há cura

os desvalidos
solitários
alcoólatras
poetas da sarjeta
noturnos andarilhos
os mal-amados
suicidas
rejeitados
loucos
todos
todos
todos
são meus.

sábado, 13 de abril de 2013

Corte

declare ausência
faça falta
fique distante
minha decadência

esqueça a aparência
apague a memória
esqueça a história
apague a evidência

declare ausência
que uma hora
não vai doer mais

declare ausência
que uma hora
deixa de fazer falta

e uma hora
deixa de fazer falta.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Lítio

Bem que tu poderia
aparecer agora
saindo do trabalho
advinhando minha mesa
sonolenta do remédio

Bem que tu poderia
aparecer agora
por acaso,
ao trocar o caminho
numa rua
de prédios neoclássicos
e paralelepídedos

comprando cigarros
chegando mais cedo
talvez irreconhecível

embora eu não queira
bem que tu poderia
aparecer agora.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

O medo

tarde demais
ou tão cedo
o velho receio
o medo

todos os meus suicídios
empecilhos
martírios
fracassos

tarde demais
ou tão cedo
o velho receio
o medo

todos os meus atrasos
vôos rasos
acasos
e afins

tarde demais
ou tão cedo
o velho receio
o medo

todos meus porres
tarde demais
ou tão cedo
todas minhas mortes
tarde demais
ou tão cedo
todas as dores
tão tarde
tão cedo
tudo agora
no tempo certo
ou errado
em mim.