sexta-feira, 18 de maio de 2012

Fantasma no smog

Sou a fumaça
que tu soprou
e tu ficou
e me fui
e sumi
não sem antes
tocar de leve
tuas entranhas

Breve arrepio

Fui espectro lhe atravessando
somente encontrando o vazio
de mim mesmo.

Oferenda


Do que emociona
Eu me distancio

O hematoma
Que evidencio

O sintoma
Presencio

O que aciona
Meu anúncio:

Toma:
Meu silêncio.

Um degrau abaixo

Absorto
entre a linha e o canudo
rasgando as narinas.

Absurdo
o comprimido e a goela
já não se entendem mais.

Abstrato
como sombras e rastros
e meteoros caindo.

Absoluto
o vazio
obscuro
de um pretérito
sem futuro.

Vísceras

Antes
o aurora reticente
o frio agora frequente
dos males, o mais recente
que invento.

No meio
da súbita viagem
a lúdica imagem
da nítida passagem
do tempo.

Agora
a impressão da inércia
funde-se à noção inversa
do pensamento imerso
em movimento.

Depois
o silêncio agonizante
o ataque fulminante
o soco debilitante
deste momento.

Alegria fugaz

E na rua
Ficam me olhando
Como se me vissem.
E comigo
A certeza
De uma face ineficaz.

E na praça
Fico bebendo e rindo
Mas comigo
A tristeza
De uma alegria fugaz.

Estado crítico

Já é outubro
E meu nome
Está perdendo seu ímpeto
Tornando-se vago,
Perdendo seu âmbito.

Já é outubro
Preciso de algo
Preciso de álcool
Preciso precisar de algo.

E já é outubro
E estou perdendo o ímpeto
Não há abraços cálidos
Nem sorrisos límpidos.

Estou ficando gélido,
O estado é crítico.

Contagem Regressiva

Morri numa rotina
Num dia qualquer
Pensando na vida
Bebendo um café.

Morri após um abraço
De uma amiga minha
A caminho do colégio
Numa praça vazia.

Morri ao sair do bar
Numa noite de excessos
Querendo achar graça de mim
Não tendo muito sucesso.

Morri com a certeza
Que era a hora precisa
Num relógio infalível
Em contagem regressiva.

Nessacidade

Sinto muita falta do que nunca tive.
Preciso criar memórias falsas e sentir
saudade. Preciso conversar com
meus fantasmas.

O breu

a voz embargada
a tua, abafada
o adeus.

a mão trêmula
a tua, frêmita
o apogeu.

os olhos empoçados
os teus, fechados
o breu.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Predestinado

Um poema
de conteúdo etílico
escrito em letras garrafais

delirante
febril

Num guardanapo
amassado no bolso da calça
fadado ao esquecimento.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Coma nº 7

arrastar-se pra casa
catarse constante
o coma
restos e mais restos
de si mesmo
deixados pra trás
desde o parto
desde o berço
no rastro
do tempo.